quarta-feira, 17 de agosto de 2011

NECROCHORUME


Aquecimento global, poluição atmosférica, poluição hídrica, poluição do solo, contaminação global! O que estamos fazendo com nosso planeta? É a ação do homem, querendo produzir, crescer, prosperar.
Mas, será que podemos crescer e prosperar sem agredir com tamanha gravidade nosso planeta? É claro que sim! E é com este enfoque que falamos aqui da poluição hídrica, ou contaminação de nossas águas.
A água é o nosso bem mais precioso e estamos destruindo-a, achando que não terá fim, mas tem! Sabe-se hoje, que a água é um bem finito e que, se não nos atentarmos em reduzir ou até mesmo eliminar os dejetos que jogamos em nossos rios, lagos e lençóis freáticos, estaremos comprometendo a vida na terra.
Em toda atividade humana ou na maioria delas há um descarte de água contaminada com algum rejeito, até mesmo os dejetos humanos, os esgotos, são capazes de destruir um corpo hídrico, se não forem tratados eficientemente antes de serem lançados na natureza. Até mesmo após a morte, o ser humano é capaz de gerar compostos contaminantes através da decomposição de seu corpo.
Esse é um problema muito relevante e de saúde pública, e tem-se que despertar para esta realidade, verificando o que está sendo realmente realizado nos cemitérios de uma maneira geral.
Um corpo quando enterrado, entra em estado de decomposição e através do trabalho de microorganismos, um líquido é gerado nesta transformação como também gases tipo gás carbônico.
Tal líquido gerado é denominado de Necrochorume. Sabendo que a referida decomposição leva em média de 2,5 a 3,0 anos, essa substância pode começar a ser eliminada durante um ano após o sepultamento.
A sua principal característica é ter um escoamento viscoso, de coloração acinzentada, composta de 60% de água, 30% de sais minerais e 10% de substâncias orgânicas, sendo duas delas altamente tóxicas, a putresina e cadaverina, que em contato com a água da chuva, podem percolar pelo solo e atingir o lençol freático, podendo desta forma contaminar seriamente as águas subterrâneas e quem delas consumir.
Desta forma, se verifica a necessidade urgente de se ter um maior e melhor controle desses cemitérios e seus sepultamentos, pois já foi constatado que em torno de 90% das necrópoles tidas como irregulares, 3/4 delas estão com solo e lençol freático comprometidos. As principais causas são: Despreparo no sepultamento e localização em terrenos inadequados. Segundo a Legislação Ambiental vigente (Conama 368 de 28 de março de 2006), o limite entre a cova e o lençol freático não pode ser menor que 1,5 metros.
Mesmo com a existência de tal legislação, a fiscalização ainda é lenta e difícil, haja vista as condições de tempo e estrutura dos cemitérios existentes, os quais devem atender a população com visão social, incluindo assim os indigentes, enterrados sem qualquer critério de proteção ambiental.
E que critério é esse?  É necessário se realizar uma avaliação de Condições Geológicas (tipo de solo) e Hidrogeológicas (profundidade do aquífero). E o mais importante, elaborar um projeto adequado das disposições dos caixões, instalando uma retenção ou uma captação do líquido gerado na decomposição do corpo, seguindo por sistemas de drenagem específicos para encaminhar o necrochorume captado a um sistema de tratamento que permita tratar com eficiência suas toxinas, lançando no ambiente um líquido livre de compostos tóxicos para a saúde.
Tal tecnologia pode ser desenvolvida e adaptada ao sistema de acordo com estudos específicos de cada empreendimento, verificando caso a caso as necessidades reais da região e das condições hidrogeológicas do terreno em que se encontra. Sistemas anaeróbios, processos de desinfecção devidamente dimensionados para atender às reais necessidades de cada empreendimento.
Implantando um sistema de tratamento de necrochorume estará se prevenindo doenças com uma tecnologia que custa muito menos que tratar as enfermidades. Isso faz parte do comprometimento de todos, a priorização e prevenção da saúde da comunidade.
Somos todos responsáveis por um meio ambiente mais limpo e próprio a uma boa qualidade de vida em nosso planeta.

Maria Rosí Melo Rodrigues é engenheira sanitarista da TEGEVE Ambiental